Sequestradores de Abril!

Ontem a Democracia fez 47 anos.

Uns consideram-se donos da data e outros tentam desvirtuar a memória do dia em que nos foi devolvida a nossa liberdade.

Aos primeiros estou agradecido por tudo o que fizeram para que eu hoje pudesse escrever estas linhas sem me preocupar que a PIDE me aparecesse à porta e me levar por delito de opinião.

Mas tudo o que fizeram não lhes dá o direito de agir como uma espécie de porteiros da festa, controlando que pode ou não, estar na dita. Como se a liberdade não se aplicasse a todos e a democracia não defendesse todas as posições, por muito parvas ou anti-democraticas que estas sejam.

Além disso, não podem querer transformar Abril num movimento de pensamento único porque Abril fez-se para se exactamente o oposto! Para que cada um se sentisse livre para expressão as suas verdadeiras opiniões, sem censura ou limitação.

É verdade que a Liberdade nos trouxe sempre quem quisesse aproveitá-la para a transformar numa ditadura tranvestida de democracia musculada. Fenómenos de radicalismo ou de discursos pouco ou nada  democráticos não são uma novidade destes tempos.

Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 havia partidos de Esquerda que queriam implementar a Ditadura do Proletariado e partidos de Direita que queriam um regime parecido ao do Pinochet no Chile e que recorreram aos atentados à bomba para o conseguirem.

Sempre houve quem quisesse sequestrar Abril para o subverter e submenter todo o país à sua vontade. E pelos vistos, voltamos a assistir ao reeguer desses fenómenos com o aparecimento dos novos partidos ou de novos players dentro dos partidos implementados cujo o discurso é um constante apelo a uma liberdade que só existe se houver partilha das suas ideias e vontades.

As liberdades individuais passam a estar limitadas pela vontade de Estado moralista que intromete na vida pessoal e nas escolhas individuais de cada um, obrigando-nos a um formato único autorizado, empurrando todos os demais para a clandestinidade ou ao obscurantismo.

A esses convém esclarecer que o simbolo da revolução de Abril é um Cravo Vermelho.

Este foi veremlho que era a flor que estava à mão e não porque a revolução tenha sido feita por só "vermelhos" ou comunistas. A Revolução de Abril foi feita por muitas tendências ideológias e por muitas "cores" pois na sua preparação, estiveram comunistas (maoístas, trotskistas e leninistas-stalinistas), como tiveram católicos, socialistas da linha europeia, conservadores (caso do CDS) e alguns que transitaram da ala mais liberal da União Nacional, como foi o caso do Sá Carneiro.

A tentatíva pífia de tentar colar a cor do Cravo a uma posição ideológica é por isso devido ao desconhecimento profundo do que significa Abril e do que realmente se passou.

Permitam-me ainda que faça uma referência ao Cravo Negro para "celebrar o luto da democracia" como disse a pessoa que o usou. De facto a nossa democracia está de luto mas porque alguns continuam a fingir não entender o que se passa neste último ano e meio e querer fazer acreditar os outros que estamos numa ditadura, regime esse que mesmo assim permite que cada um dê a sua opinião seje que seja preso. Aliás segundo a pessoa do cravo negro, o seu discurso na AR já lhe valeria ir preso por ter criticado um juiz e o respectivo tribunal.

Esperemos que os portugueses tenham Abril mais enraizado e não o troquem por um estilo de vida ou por uma gaiola dourada que mesmo dourada, não deixa de ser gaiola!

Namaste!


Comentários

Mensagens populares deste blogue

7 Perguntas a Carlos Humberto

Lavem a Lei do Financiamento dos Partidos com Tide

Mariquices e Disciplina de Voto