Caro José.

Desculpe se continuo a não concordar com as suas opiniões.

O problema a meu ver não se centra somente no modelo de ensino, mas sim no modelo de escola. Os tempos evoluíram e a escola não. Hoje, as crianças arriscam-se a saber mais que os professores, pois as fontes de informação existem em maior número e o seu acesso está mais democratizado, contrariamente ao que acontecia no nosso tempo.

Hoje, as crianças rapidamente aprendem a pesquisar nos inúmeros motores de busca, disponíveis na Internet, toda a informação que necessitam, não sendo essas necessidades obrigatoriamente despoletada pela escola, pelo que quase que se pode dizer que cada criança cria o seu percurso de conhecimento e evolução, pondo os seus interesses à frente dos da escola, isto tem muito a ver com o que foi preconizado pelo Movimento da Escola Moderna. Ou seja, o papel do professor sofreu alterações drásticas e muitos deles ainda não se aperceberam dessas alterações ou modificações e ainda não se adaptaram.

Como compreende, nada me move contra os professores, a não ser a postura que assumiram, que a culpa do estado do ensino em Portugal, nada tem a ver com o seu desempenho, mas tem sempre a ver com factores externos à escola e à forma como desempenham os seus papeis.

Voltando à sua estatística, continuo a considerar o seu indicador como dúbio. Em primeiro lugar, em que anos acontece esse abandono? Qual a percentagem de abandono ligada ao desinteresse pela escola e à frustração das notas negativas? Eu tive negativa no exame nacional de matemática do 12º ano e continuei o meu percurso académico, até conseguir uma licenciatura. E como eu, muitos fizeram o mesmo. Em segundo lugar, continuo a perguntar-lhe, porque não me respondeu, qual a percentagem de crianças que abandona o sistema de ensino, por razões puramente socio-económicas?

Relativamente às teorias de pensamento… Elas não são teorias de pensamento. São teorias de Comunicação Humana. Na comunidade científica está hoje determinado que o nosso pensamento se processa por objectos ou imagens e não por palavras, por isso não tente refutar um facto científico, com uma divulgação de interesse, pois pelo facto de não ver interesse nestas teorias, elas não deixam de ser aceites como verdadeiras pela comunidade científica. Uma ideia pode comunicada através de expressões, de música, de imagem e não só da forma verbal ou da se quiser da palavra. Mas é importante sabermos utilizar as palavras para comunicarmos uns com os outros. Mais uma vez permita que o corrija, mas a primeira forma de comunicação foi a imagem. Era desta forma, que se transmitia conhecimento na Pré-História. Por outro lado, estamos de acordo que um bebé aprende certo? E como ele adquire esse conhecimento? Por memorização?

No que toca ao Harry Potter, tem razão e estou totalmente de acordo com a sua afirmação. Mas, e depois no 5º ano? E no 7º? E no 10º? Que livros serão os mais indicados para que as nossas crianças e jovens ganhem hábitos de leitura? A meu ver, sempre existiu uma grande confusão no objectivo da cadeira de Português. Esse objectivo é fazer com que se saiba ler, interpretar as palavras escritas e saber criar novos textos, ou seja utilizar coerentemente as palavras, tanto semanticamente como gramaticalmente, pelo que qualquer livro, bem escrito, em português, permite criar e exercitar a nossa língua e o nosso pensamento em Português. O Português - Cultura, deverá existir, mas numa disciplina à parte, sobre educação para a cidadania.

Então o meu caríssimo interlocutor considera que um erro ortográfico, desde que tenha uma percentagem de 30% no google é tolerável ou bem aceite… Espero que nos testes que corrige não esteja a aceitar expressões como o kerer, xatear, ke e outras que a juventude utiliza na sua linguagem escrita… garanto-lhe que se for ao google, a percentagem de aceitação é bem maior. No que toca à sua referência sobre a embirração que o corrector ortográfico do Word tem com a palavra curricula, também o tem com a palavra orgão, que modifica para órgão e como sabe não existem palavras em português com dois acentos.

Relativamente à memorização vs raciocínio, é obvio que uma boa parte da aprendizagem se faz por memorização. No entanto, centrar o ensino somente nesse objectivo é convidar as pessoas a deixarem de pensar. Para mim, o método mais correcto é exercitar constantemente o raciocínio, método esse que deverá ser assente também na memorização. Lembro-lhe que o método que advoga vigorou durante muitos anos em Portugal, e por esse facto, foi criado especificamente para nós o nível zero de iliteracia. Pois é… a memorização, em Portugal, deu mau resultado. Deixamos de saber interpretar, de raciocinar, de sermos capazes de criar.

Só mais uma coisa, a memorização é uma característica humana. Estou de acordo que tem de ser exercitada, mas ela já existe quando nascemos. A matemática é um bom exemplo do que lhe estou a tentar dizer. Se memorizar que 2 + 4 = 6 e não compreender a operação, quando lhe surgir 4+2, provavelmente não saberá dar a resposta, pois já não está memorizado. Dai ter-lhe dito que a memorização tem limites.

Por último, eu disse que o ensino tem de ser desafiante para a criança e para o jovem. Se assim for, tornaremos a escola mais ajustada às expectativas das crianças, tornando-as mais aptas como cidadãos e como força de trabalho.

Comentários

  1. Esta discussão não tem assunto. A questão principal não está no modelo de ensino, nem no modelo da escola. Não estamos a discutir nem este, nem aquele.

    A principal questão, é que se está a tentar ensinar de tal maneira que o cérebro do aluno não se consegue desenvolver nem consegue aprender a matéria. Isso, não é admissível, sob pretexto algum. E aqui, não há qualquer espaço para discussão. Isto tem que ser corrigido, e já devia ter sido. Tudo o resto são assuntos secundários.

    Na tentativa de criar um ensino melhor, mais democrático, mais crítico e mais moderno, deitou-se fora o correcto e o bom da escola que tivemos, sem se ter introduzido algo válido que possa substituir o deitado fora. Dai os problemas (quase) todos.


    *** Quanto à necessidade de memorizar certas coisas, esta, como já referimos, tem duas utilidades:
    1. desenvolver o nosso cérebro;
    2. aprender coisas que não podem ser deduzidas por pensamento lógico, crítico ou qualquer outro.
    Num processo educativo correctamente construído, não podemos prescindir de qualquer uma destas duas funções dos exercícios de memorização.

    Quanto às suas preocupações, nenhum aluno que não tenha aprendido a ler conseguirá saber mais que o professor: tem o pão, mas não tem a boca. Ainda, esquece-se mais rapidamente do que aprende: não tem memória.

    A "Escola Moderna", na prática, limita-se a fazer copy-paste, pois os alunos não conseguem fazer outra coisa, preparando "trabalhos" avaliados pelo número de fotos copiadas.

    Um aluno com negativa a Português ou a Matemática, em circunstâncias normais, não deve ter acesso a qualquer curso superior. Sem aproveitamento na Escola, o que é que vai fazer na Universidade? Um curso de 2 dias num fim-de-semana? Devia sim entrar num "colégio comunitário" à maneira dos Estados Unidos, que têm os mesmos problemas (aliás, nós é que adoptamos as invenções americanas), para aprender a ler e a contar.

    A verdade científica é verdade até provado o contrário. Se as letras do alfabeto foram formadas a partir de desenhos - ideogramas - foi para facilitar a leitura e não por estar a pensar por imagens. Quem conhece bem várias línguas estrangeiras sabe que consegue pensar numa ou noutra língua, e a transição envolve um certo esforço. Este é um facto experimental que a sua teoria favorita não explica, pois pensando por imagens e sem palavras, que diferença faz a língua? O pensamento baseia-se em equivalentes cerebrais das palavras e dos sons, e não das imagens: digitando as palavras no computador, frequentemente escreve-se uma palavra errada mas com o mesmo som, embora com uma imagem diferente – tem letras diferentes, etc. Isto não é mais uma prova? Use o pensamento crítico. Nenhum de nós pensa por imagem da palavra, e não devemos impingir este tipo de pensamento aos nossos alunos: não dá, como se vê pelos resultados.

    Se o aluno não sabe ler no décimo, não vale a pena perder tempo na escola. Se lhe interessa ler o Harry Porter, pelo menos ficará ocupado por uns tempos sem fazer asneiras.

    Nos sites portugueses (.pt), a versão aportuguesada (currículos) usa-se já em 70% dos casos. Assim, passou a ser uma norma. É um processo natural de desenvolvimento da língua. Tendo o Português uma escrita predominantemente fonética, depois de feitas as reformas ortográficas, o desenvolvimento da escrita tornou-se naturalmente mais acelerado.

    Nunca dissemos que a pessoa não deve racionar. Raciocinar deve, mas precisa da memória, a qual deve ser desenvolvida (ver ***), e aqui está uma das duas principais falhas do sistema vigente: não se desenvolve a memória, não, não e não. Porque será?

    As várias estatísticas detalhadas estão disponíveis na Internet, mas não nos interessam. O que interessa, é que a Escola, no seu estado corrente, deixa um aluno médio completamente ignorante e iletrado. E isso não é admissível. Qual capacidade de raciocínio crítico, se não tem padrões para comparação, pois não se consegue lembrar de nada do que aconteceu há mais de 2 semanas?

    Além da 2+4, o aluno devia aprender a+b=b+a, na forma da regra mnemónica decorada, assim já se consegue fazer. As somas dentro de 20 e a tabuada da multiplicação têm que ser decoradas. Só faz bem. Talvez compreenderá no 6º ano, mas precisa de fazer as somas no 2º, senão nunca compreenderá nada, como se confirma. Continuará a somar pelos dedos, raciocinando criticamente sobre as (inexistentes) dificuldades da Matemática.

    Raciocinar sempre, em vez de poder usar conhecimentos memorizados: não se consegue. Os tsunamis não permitem.

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  2. Meu caro José Gil!
    Olhe que em português existem muitas palavras com 2 sinais gráficos, embora com funções diferentes. Assim, se o corrector ortográfico lhe muda "orgão" para "órgão" pode ter a certeza que o corrector está correcto (perdoe a redundância). Outra palavra, por exemplo, Estêvão (nome próprio ou apelido), etc...;
    não seja pois tão redutor....

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  3. Caro anónimo... Tem razão. Desculpe o meu erro. Neste blog também há espaço para o seu moderador aprender.

    Obrigado pela correcção.

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