Resposta ao Post Anterior... Desculpem se é grande

Caro José Carrancudo. Desde já lhe agradeço o seu comentário e a sua participação no meu Blog.

Deixe-me dizer-lhe que não partilho totalmente das suas apreensões ou das suas preocupações que publicou no seu blog e que tive o prazer de ler com atenção, antes de responder ao seu comentário.

Mas vamos por partes. Em primeiro lugar, parece-me estranho que neste país se possa criticar tudo excepto os professores. Depois de se ter investigado todos os aspectos de todos os ângulos, não faltará verificar se o papel dos professores está a ser desempenhado correctamente? Em segundo lugar, existe uma tendência generalizada para as pessoas esquecerem que quem traça caminhos e políticas, são os professores, pois são eles que fazem a leis com que se regem (sim, também existem professores no Ministério que apoiam a Ministra).

Deixe-me ainda dizer-lhe que o indicador estatístico que referiu no seu comentário é no mínimo duvidoso para alguém que saiba um pouco desta ciência, pois mistura na mesma percentagem, dois assuntos totalmente diferentes: Um primeiro que tem a ver com o abandono escolar. Qual é a percentagem de abandono? quais as razões que levam ao abandono escolar? terão elas, maioritariamente, a ver com a Escola, ou poderão haver razões de ordem puramente social e económica?
Parece-me um pouco exagerado estar-se a insinuar que o abandono escolar, só tem a ver com política de ensino. E misturar isto com as notas dos exames de Português e Matemática...

Da leitura do seu blog, retiro algumas imprecisões, que deverá corrigir. Em primeiro lugar, as pessoas não pensam por palavras, mas sim por imagens, dai fazer sentido falar em signos, sinais, códigos linguísticos ou códigos de significado, que não são mais do que constructos ou representações gráficas ( por signos e sinais) das imagens que queremos transmitir. Aconselho-o vivamente a ler as teorias da Comunicação da Escola de Palo Alto, publicadas nos anos 70. E já agora podia também, antes de dizer o que disse, a interessar-se pela Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), que é a ciência geral dos signos e da semiose, que estuda todos os fenómenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. Em oposição à linguística, que se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objecto qualquer sistema sígnico - artes visuais, fotografia, cinema, música, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência etc. (Excerto tirado da Wikipédia).

Era por isso que antigamente se associava imagens a letras...Mas avancemos. E já agora diga-me: Concorda com a introdução dos livros do Harry Potter no ensino? Ou iremos continuar a insistir em ensinar a ler através de textos que nada dizem às crianças? Não seria esta uma hipótese muito simples de incentivar hábitos de Leitura?

Outro erro que encontro, no meu ponto de vista, na sua opinião, tem a ver com o método de memorização aplicado a todos os CURRICULA (plural de curriculum) escolares. Este método de ensino, amplamente utilizado antes do 25 de Abril de 1974, trouxe grandes benefícios às nossas pessoas. Primeiro deixaram de saber raciocinar, quer em termos lógicos, quer noutros - se não está na memória, não existe. Ou será que seremos assim tão diferentes dos outros seres humanos? O senhor ainda se lembra da tabuada? A matemática tem pouco a ver com tsunamis (exemplo muito fraco para ilustrar as suas ideias) e com memorização e muito a ver com raciocínio lógico-matemático ou lógico-dedutivo. Temos de ensinar as nossas crianças a Pensar pela sua cabeça e a serem criativas, pois é aí que reside o futuro delas, na sua capacidade de inovação e de resposta a um mundo cada vez mais destruturado e onde as respostas preconcebidas não se adequam.

No meu caso pessoal, sempre detestei a matemática, pois não lhe via utilidade ou fim. Até que cheguei à Universidade e descobri a Estatística...
Na minha profissão (Sou Consultor de Recursos Humanos e Formador) aquilo que mais me incomoda nos profissionais que encontro, é a falta de raciocínio e a pouca imaginação que têm... aliado a uma postura muito errada, quase irresponsável.

Mas existe um ponto onde estou de acordo consigo. É necessário dificultar o ensino. É necessário torna-lo desafiante e desafiador para as crianças. É necessário tornar a Escola num espaço child-friendly, mas não de produção em massa de burrices ou inadaptações, que visam somente melhorar os indicadores estatísticos.

Esta é a minha modesta opinião... De alguém que esteve neste sistema de ensino

Comentários

  1. 1. Criticar os professores.
    Mandou-se fazer o que não pode ser feito. Quem é o culpado? Quem não consegue fazer, ou quem mandou fazer? Para nós, a resposta é mais que óbvia.

    2. O abandono é de 40%, as notas médias de 6 ou 7, então dos 60% que não abandonaram, só 1/3 (20% do total) tira uma nota positiva. 40%+40% são 80% os alunos que não aprenderam o suficiente para ficarem minimamente interessados para acabar ou continuar os estudos.

    3. Das teorias de pensamento: qual é a utilidade de se pensar em imagens sem se poder transmitir o que quer que seja aos outros? No aspecto social, o pensamento está sempre ligado à palavra. Fora da sociedade, o "animal" humano não se desenvolve intelectualmente, ficando-se por reacções instintivas e sem capacidade de pensamento abstracto. Este último, é uma consequência da transmissão oral dos conhecimentos adquiridos por muitas gerações, quando ainda não havia escrita, mas já havia palavra e língua. Foi precisamente a capacidade de memorização que gerou o pensamento, com base nos conhecimentos acumulados.

    4. Harry Potter: a leitura deve ser ensinada no 2º ano, usando o abecedário e não livros grossos. Para esta idade, os livros de Harry Potter são complexos, e devem ser lidos com o acompanhamento de um adulto, para não criar ideias deturpadas sobre o mundo.

    5. Currícula vs Currículos - a pesquisa no Google revela que a versão aportuguesada é bem aceite (30% dos usos).

    6. Memorização vs Raciocínio (lógico, critico, etc)
    Não se deve opor as duas coisas. Como dissemos, a abordagem presente absolutiza o raciocínio crítico, expurgando todos os exercícios de memorização dos currícula (o spellchecker não gosta desta versão). Ora, isso, a nosso ver, impossibilita todo e qualquer pensamento (impossível sem os conhecimentos memorizados - ponto 3), como mostram, e bem, os resultados dos exames nacionais.

    7. Matemática, tsunamis, filosofia, etc: tudo isto requer conhecimentos memorizados, e também o desenvolvimento da capacidade de memorização. Esta última, tem que ser desenvolvida na altura certa, ou seja, na escola primária. Mais tarde, já é tarde demais: é o resultado da fisiologia do desenvolvimento do cérebro humano.

    8. Dificultar o ensino: não precisamos de dificultar os currícula, precisamos é de ensinar como deve ser e como o nosso cérebro consegue aprender. Ainda, precisamos de exigir que o aluno demonstre os seus conhecimentos, e não a sua capacidade de fazer copy-paste preparando trabalhos inúteis.

    9. Sim, ainda me lembro da tabuada porque a decorei. E mais, consigo recitar alguns poemas.

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