Portugueses, Dicotomia e Rotulagem

Não sou politólogo, nem formado em Ciência Política. Mas sou um apreciador do fenómeno político e partidário.

Tive uma professora de Economia, na escola, que dizia que as pessoas confundiam política, com partidos. Ou seja, que qualquer opinião que eu dê, será sempre política, podendo não ser partidária, pois nesse caso teria de estar ligada a algum partido ou falar em nome de um.

Em Portugal, somo especialistas em Dicotomias e Rotulagens. Irei debruçar-me exclusivamente sobre as dicotomias políticas do Séc. XX e XXI.

A Primeira grande dicotomia deste período foi entre Monárquicos e Republicanos. Os primeiros defendiam a Monarquia Parlamentar e os segundos a Implantação da República, como veio a acontecer em 5 de Outubro de 1910 (sim... é por isso que é feriado nesse dia).

Com a subida ao poder de António Salazar, a dicotomia passou a ser entre Fascistas e Comunistas. Os primeiros, a favor da ditadura salazarista e os segundos os que estavam contra ela. Nestes últimos, foram englobados monárquicos, católicos, liberais, socialistas moderados, etc. Mas para todos os efeitos, passaram todos a ser simplesmente comunistas.

Com a queda da Ditadura, a dicotomia mudou... Ou se era Revolucionário ou Reaccionário, sendo que todos os partidos de direita eram Reaccionários e uns revivalistas do fascismo, que queriam a volta do Senhor Salazar e da Ditadura e só alguns partidos de esquerda eram "verdadeiros" revolucionários. O que estava na moda era ser revolucionário e estar com o MFA.

Já nos anos 80, a dicotomia voltou a mudar, com a suavização do discurso partidário: Passou-se a ser de Esquerda ou de Direita. À esquerda alinhavam o PCP, o PS, a UDP, o PSR, a FER, o PCTP-MRRP, o POUS, entre outros. À direita, a escolha era menor: o PSD, o CDS, o MDLP...

Depois os tempos complicaram-se e as dicotomias também. Deixamos de ser ou de uma coisa ou de outra e passamos a ter uma miríade de opções. Hoje, já não se é só simplesmente de Esquerda ou de Direita. Também se pode ser Liberal, Neo-Liberal ou Conservador...

No entanto, penso que só alguns iluminados, têm a consciência do que é que estes rótulos significam. Hoje, em Portugal, se eu quero ofender alguém, não lhe chamo filh*** da p*** nem reaccionário. Chamo-lhe Neo-liberal. Se é só uma pequena ofensa, chamo-lhe liberal.

Será que as pessoas que usam estes termos, arbitrariamente, sabem do que falam? ou será que simplesmente os papagueiam?

Será que quem acusa o PS e o PSD de serem ideologicamente idênticos, poderá apontar diferenças entre o PCP e o PCTP-MRPP (já para não falar nos outros partidos de extrema esquerda)?

Fazendo uma análise ao espectro político português, cada vez mais acho que as dicotomias do passado e os rótulos do presente, são só embalagens vazias de conteúdo e uma tentativa de tapar o buraco deixado pela falência das grandes Ideologias.

E nós? Será que nós sabemos o que somos? Gostaria que todos os que leêm as minhas humildes opiniões se dirigissem a um site fabuloso, o Political Compass e realizassem o teste (está em inglês ou em espanhol) que eles propoem, de forma a ficarem a saber um pouco mais daquilo que são as suas convicções.

Estes rótulos cada vez estão mais gastos e as frases feitas estão a matar o discurso político, e já nem hoje podemos recorrer a dicotomias, pois o Mundo deixou de poder ser analisado de forma tão simplista. Não é já possível utilizar as simples dicotomias para analisar a nossa realidade e fazê-lo é ser cego por opção.





Comentários

  1. Political compass é um instrumento muito interessante e útil, pois, como dizia o Quino, raras são as pessoas que são boas Sherlocks de si mesmo.

    A quantidade de "tipos de esquerda" (seja lá o que isso for) que na realidade não o são é muito interessante, embora creia que neste caso é uma questão eminentemente estética.

    Para além do Political Compass, o Iconochasms também é muito interessante. Gostei em particular do do actual Prémio Nobel (ok, um "spoiler").

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  2. Political compass é um instrumento muito interessante e útil, pois, como dizia o Quino, raras são as pessoas que são boas Sherlocks de si mesmo.

    A quantidade de "tipos de esquerda" (seja lá o que isso for) que na realidade não o são é muito interessante, embora creia que neste caso é uma questão eminentemente estética.

    Para além do Political Compass, o Iconochasms também é muito interessante. Gostei em particular do do actual Prémio Nobel (ok, um "spoiler").

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