Greves, Socialismo e NeoLiberais

Escrevo este post, quando nos preparamos para mais uma greve da Função Pública, no dia 30 de Novembro.

Tive a oportunidade de ler um excerto da Entrevista do Dr. Mário Soares à TSF, transcrita no DN. Nesta entrevista, Mário Soares analisou o papel do Governo, o desempenho do Primeiro-Ministro, a situação actual do PS e os desafios futuros e ainda teceu alguns considerandos sobre o Estado da Política em Portugal e do "perigo" das ideias Neo Liberais.

Pelo que pude ler, a entrevista foi excelente porque Mário Soares continua lúcido na abordagem aos assuntos e aos seus princípios. Excelente porque finalmente pôde esclarecer que Socialismo pôs na gaveta (afinal foi o Socialismo Comunista) e ainda na análise que fez ao PS e aos desafios que terá de enfrentar no futuro, sendo da opinião que o PS deveria abrir mais linhas de diálogo com o Mundo do Trabalho, nomeadamente com os Sindicatos.

Por outro lado, diz que os políticos em Portugal estão adoptar uma ideologia Neo Liberal, que diz ser influência americana e que pode por em risco o Papel Social do Estado e a correcção das desigualdades sociais.

É aqui que tenho alguma discordância com a opinião expressada pelo entrevistado. Como já tive oportunidade de referir neste blog, sou um adepto da Social Democracia , ao bom estilo nórdico. No entanto, considero que algumas das reivindicações Neo Liberais são justas e necessárias, para o Progresso e para o Desenvolvimento Económico de Portugal. Distancio-me deles, porque acredito que o Estado Previdência (e não Providência) deve existir como forma de apoio aos mais carenciados.

No que toca ao diálogo com o mundo do trabalho, ou seja os Sindicatos e alguns Partidos Políticos situados à esquerda do PS, penso que será impossível, pois Governo e Sindicatos falam uma linguagem completamente distinta e mais do que a linguagem, está a filosofia e as ideias base, que para além de diferentes, são antagónicas.

Pelo lado dos sindicatos, continuamos a assistir a uma postura "velha e senil", servindo como força de bloqueio constante, ao desenvolvimento económico. São contra tudo o que é inovação, em termos de trabalho, tal como a avaliação do desempenho e do mérito e a manutenção de uma lei proteccionista do trabalhador e não do trabalho. O único direito em que se reveem é o do vencimento e nada mais exigem... Estas estruturas, que são importantissimas para a defesa das classes profissionais, não se mostram nada preocupados com os impactos das suas propostas na nossa economia.

Pelo lado do Patronato, verificamos um deficit de Cultura empresarial. O número de Gestores profissionais nas chamadas PME's é reduzidissimo, o Conceito de Boa Governação é inexistente e as nossas empresas estão mal estruturadas, quer para enfrentar um mercado Global, quer para competir internamente. O lucro ainda é obtido, tendo em conta os esquemas, quer de fuga aos impostos, quer de outras "estratégias" menos claras (como recorrer a mão de obra não especializada, porque é muito mais barata), tornando as nossas empresas em estruturas frágeis e sem capacidade de resposta, pois os vencimentos não poderão baixar muito mais e parece que o Governo não vai ser tolerante com os esquemas de fuga.

Enquanto estes dois lados da mesma moeda não compreenderem que o futuro só pode vir da cooperação entre as estruturas empresariais e sindicais, e enquanto não houver uma evolução do paradigma que rege estas duas estruturas, teremos sempre sérias dificuldades em que o desenvolvimento económico seja sustentado e sustentável.

As greves, que são um direito, hoje não passam de comícios contra governos, que nada mais fazem do que importunar, pois nada mudam e só chateiam. O discurso é cada vez mais populista e demagógico, pelo que os reais problemas acabam por nunca ser debatidos e as soluções são sempre inquinadas à partida.

O nosso problema está na pressão que a UE nos está a fazer neste campo, para que nos modernizemos. Não assinamos o Tratado de Roma (aquele que fundou a CEE) porque não queriamos deixar as nossas ex-colónias... Será que a UE vai começar a por sanções se não modernizarmos as nossas Empresas? E será que só o faremos se formos obrigados? E que custos isso terá para o País?

São estas perguntas que gostaria de ver ambos os lados responderem. Como não me parece que isso vá acontecer tão cedo, contento-me em ler boas entrevistas, com boas opiniões, mas que não passam disso. Palavras... Porque no campo das acções, continuamos a não fazer nada.

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