Barreiro - Uma Análise do Passado

Como é sabido de todos, o Barreiro vai finalmente receber um investimento que poderá devolver à cidade e ao concelho o dinamismo e a importância que ao longo dos últimos tempos tem vindo a perder.

Se por um lado importa saber que projectos defendem as forças partidárias com hipótese para governarem a Câmara (PS e PCP), por outro importa analisar as reais razões que levaram o Barreiro a chegar a este estado.

O Barreiro sempre foi uma terra de trabalho. Inicialmente mais virado para a pesca, a salicultura, a moagem, o cultivo da vinha e o abate de lenha, é no séc. XIX que o Barreiro assiste a uma transformação profunda. A proximidade a Lisboa, a boa navegabilidade do Rio Coina e a instalação da via-férrea no Barreiro veio permitir a instalação de fábricas de cortiça em 1875 e da CUF em 1907. Com a instalação desta última, o Barreiro torna-se no maior pólo de desenvolvimento industrial do País.

Nos seus tempos mais áureos, a CUF criou cerca de 12.000 de postos de trabalho directos, a grande maioria ocupados por barreirenses ou por habitantes dos concelhos limítrofes ao Barreiro. Já em postos de trabalho indirectos, seriam em igual número ou talvez até mais, o que veio dinamizar fortemente a Cidade (então Vila), atraindo os mais variados tipos de negócios, tais como restauração, pequeno comércio etc..

Muitos dos trabalhadores da CUF eram alentejanos ou algarvios, que vinham no comboio até ao Barreiro, à procura de melhores condições de vida e de trabalho, para “fugirem” à crise que se vivia na agricultura. Hoje, os barreirenses fazem o mesmo. Partem para outras paragens à procura de melhores condições de vida.

Em 1975, após a revolução de Abril, a CUF passa para as mãos do Estado (foi estatizada e não nacionalizada, pois não era empresa privada de capital estrangeiro) sendo sido criada a Quimigal, resultado da fusão da CUF, Nitratos de Portugal e Amoníaco Português. No entanto, a crise dos petróleos na década de 70 e uma crise recorrente leva a que, na década de 90, a Quimigal passa a Quimiparque, deixando de ser uma unidade fabril e passando ser um Parque industrial responsável pela gestão e aluguer de espaços, anteriormente ocupados pelas unidades de produção da Quimigal, a outras empresas e que hoje alberga algumas centenas de empresas e cerca de 5000 trabalhadores.

O desaparecimento deste importante pólo industrial teve um impacto muito negativo no Barreiro, pois provocou um aumento do desemprego no concelho, o que originou uma perda, desde então, de população e o declínio do comércio. O Barreiro volta-se para Lisboa e transforma-se numa cidade dormitório.

De 1975 até 2001, o PCP foi a força que geriu os destinos do Concelho, sendo claramente impotente para inverter essa tendência de estagnação e declínio. Nesses 26 anos de Governação comunista, poucas ou nenhumas medias foram tomadas para combater a “desertificação” a que o Barreiro foi devotado, com o desmantelamento da CUF. Esta inoperância afectou gravemente os destinos do Concelho e da cidade, tendo perdido inclusivamente a centralidade ferroviária para o Pinhal Novo, o que traduz bem o ponto a que a cidade chegou.

Como é possível que um Partido que esteve à frente do Barreiro durante mais de duas décadas tenha a veleidade de achar que pode passar uma esponja pelo passado e pelas suas responsabilidades?

Se é verdade que a Câmara nada podia fazer contra o desmantelamento da Quimigal (estou a falar de responsabilidades institucionais, mas não nos podemos esquecer das Acções das Comissões de Trabalhadores, mandatadas pelo Comité Central, e do impacto que estas tiveram no desfecho final da empresa), também é verdade que nada fez, enquanto responsável autárquico, para tentar inverter o rumo das coisas. Talvez porque com este estado de coisas é mais fácil de fazer passar o discurso miserabilista e que este se traduza em votos. Talvez porque fazendo algo para inverter a situação era assumir que a “gestão operária” da CUF tinha dado a estocada final na empresa e assim por em causa o seu próprio discurso partidário da luta de classes e dos operários, que quanto mais pobres forem, mais votam no PCP. O que é certo, é que enquanto responsável político pela gestão da cidade nada fez…

Nunca foi tomada nenhuma medida para trazer novas empresas e novos negócios para o Concelho, tentando revitalizar o tecido empresarial. Nunca o PCP se preocupou em desenvolver políticas que tornassem o Barreiro mais atractivo ao investimento, quer nacional quer internacional. Preocupou-se sim em construir prédios atrás de prédios e pouco mais e jogar as culpas para todos, menos para si. Refugiou-se na sua miopia e ortodoxia politica e nunca conseguiu ver mais além, nem nunca quis mudar esta situação.

O PCP foi é e será sempre um partido sem projecto para o Barreiro, andando ao sabor do vento e das marés.

Em 2001 o PS ganha as eleições autárquicas e assume a gestão camarária. Apesar do legado do PCP, do qual o PS nunca se queixou (se calhar erradamente), o novo executivo tenta imprimir um novo dinamismo ao Concelho, trazendo para o seu seio um pólo universitário, redesenhando através do projecto polis, toda a frente ribeirinha e tenta ainda trazer para os terrenos da Quimiparque um projecto internacional da PIXAR, - a Cidade do Cinema, que trariam cerca de 500 postos de trabalho directos para a cidade.

Após quatro anos á frente dos destinos da cidade, muita coisa ficou por fazer e provavelmente muitas outras poderiam ter sido feitas de melhor forma. O que é inegável é que o PS fez mais em 4 anos que o PCP em 26.

No entanto, com as eleições em 2005, o PCP volta a ganhar a Câmara, não pelo seu projecto ambicioso, mas sim através do discurso da punição às medidas impopulares do Governo Socialista. E passados 3 anos, nada de novo se viu… A cidade volta a perder fulgor e visibilidade.

Em suma, quem é o grande responsável pela situação actual do Barreiro? O PCP. Aos barreirenses só lhes peço que não sejam igualmente míopes e que não fiquem sem memória, pois a estes senhores convém que se lhes lembre todos os dias, que foram e são eles que afundaram o Barreiro, mesmo que eles tentem agora fazer parecer o contrário.

Um bom fim de semana.

Comentários

  1. Tens razão quando dizes que o PCP é e sempre foi um Partido sem um projecto para o Barreiro.

    Importa mais do que isso que o PS saiba defender as suas ideias para o futuro da nossa cidade e saibamos, numa lógica de participação, envolver os barreirenses no nosso projecto.

    Gostei muito deste texto.

    Continua!

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  2. Obrigado Luis...

    A tua opinião é importante para mim.

    É esta falta de projecto, estratégia e visão, que temos de denunciar aos Barreirenses.

    Um abraço

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  3. Para além da falta de projecto para o Barreiro, também não toleram quem tenha ideias diferentes que já provaram ser melhores!
    Cá estamos para tentar demonstrar aos mais ocupados ou desiludidos que há sempre alternativas...Para bem do Barreiro e dos Barreirenses!
    Um abraço
    http://www.passosdokoncelho.blogspot.com/

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  4. Olá Carlos

    Obrigado pela tua visita e pelo teu comentário e parabéns pelo teu novo blog, que vou adicionar à minha lista de Blogs, aqui no estaminé.

    Um abraço

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