Ai Portugal, Portugal

Estamos cada vez mais desgraçados. Desculpem o desabafo, mas é verdade. Uma pessoa que queira ser séria tem muita dificuldade em compreender este país em que vivemos.

Em primeiro lugar Portugal é uma democracia. Ora Democracia implica escolha e escolha implica conhecimento e informação. Conhecimento e informação que nos devem chegar da forma menos enviesada possível e não misturando opiniões com factos. Também implica responsabilidade… mais uma virtude que ao longo deste caminho se perdeu.

Em Portugal o problema começa logo por ai… O que são factos e o que são opiniões, pois os factos neste país podem levar a mais do que uma leitura e nestes últimos tempos, parece que contra argumentos não há factos.

Uns dizem que fizeram e logo vêm os outros dizer que é mentira!!! Que nada foi feito ou o que foi feito está totalmente e inequivocamente errado. Que tudo não passou de uma grande ilusão. Uns dizem que o mundo é preto e logo os outros gritam em uníssono “BRANCOOOOOOOOO”…

No meio está o POVO, que é uma espécie de coisa abstracta que serve para múltiplos fins e de quem todos os uns e outros se arrogam de conhecer melhor que ninguém e melhor que ninguém, interpretar a sua vontade.

A afirmação de AJJ, sobre a alteração da proibição do PCP por apelar a uma ideologia totalitária, fez-me pensar, não na proibição do comunismo, mas se os portugueses teriam o direito de viver em democracia. Senão vejamos… A proibição constitucional de partidos ou movimentos de extrema-direita baseia-se na premissa que estas ideologias apelam à violência, à descriminação e a comportamentos anti-democráticos, pelo que deve a lei proibir a sua proliferação. Uma leitura possível é que isto era necessário proteger a jovem democracia portuguesa e livra-la do perigo de m retrocesso… No entanto, visto por outra perspectiva, também pode indiciar que os portugueses são incapazes de discernir entre boas ou más ideologias, entre ideologias democráticas e não democráticas e assim foi necessário por na constituição uma proibição específica, para que nos sentíssemos seguros da irrevogabilidade da nossa democracia.

Ora se assim é será que somos capazes de decidir o nosso futuro e escolher quem toma decisões por nós? Será que temos essa capacidade? Será que somos sérios, responsáveis e informados para podermos tomar uma decisão tão séria como esta? Ou será que o que importa é escolher, mesmo que nunca se acerte. Será que é responsável basear a nossa escolha numa cor ou num símbolo? Será que é responsável escolher sem conhecer? Sem ter todas as informações? Não, não é. Em quase todas as actividades da nossa vida, informamo-nos antes de tomarmos uma decisão. Se vamos comprar um carro, tentamos saber todas as suas características antes de efectuarmos a compra… Se compramos uma casa, antes tentamos saber todos os pormenores do imóvel.

No entanto, no que diz respeito ao nosso comportamento em democracia é tudo menos democrático. Uma passagem rápida pela blogosfera, permite-nos analisar a nossa democracia em funcionamento. Quando é permitido aos portugueses um veiculo verdadeiramente democrático o que eles fazem? Proliferam os comentários anónimos e a crítica a pessoas, passando pelo enxovalho puro e simples. Como se as conversas de café se generalizassem e ganhassem vida noutro formato… O blog e as caixas de comentários. Nestes pedaços de “democracia” onde tudo se permite, é fácil vermos o nosso conceito de democracia em funcionamento. Confunde-se liberdade com libertinagem, democracia com maledicência, etc. Os blogues são o mais fiel espelho da nossa democracia… da nossa incapacidade para ter uma discussão sã e informada. Da nossa capacidade para participarmos no exercício democrático e partilharmos da responsabilidade de fazer crescer a nossa sociedade e a nossa cultura de civismo e de cidadania.

Hoje, e quem escreve isto não viveu em ditadura, usam-se de forma demasiado leve expressões como ditadura, fascismo, fascista, nazi, etc., retirando a cada uma delas o peso natural que deveriam ter e aligeirando o seu significado. E o mais grave é que muitas das vezes, estas expressões são usadas com ligeireza por pessoas que viveram mesmo em ditadura e que deveriam ter maior responsabilidade na utilização destas expressões, pois deveriam ter um profundo conhecimento sobre o seu significado. As mesmas pessoas que dizem que isto hoje é pior que o antigamente, parecem não saber o que era o antigamente, o que era viver em ditadura e nem sequer poderem afirmar o que afirmam hoje, sem consequências de maior.

Seria deveras importante mostrar a todos os portugueses o que era o Portugal antes da Ditadura, porque razão os portugueses entregaram o poder, democraticamente, a Salazar e porque foram tão lentos a derrubar a ditadura.

Quando hoje em Portugal já não existe o crime de opinião, a maioria dos portugueses abstêm-se de ter uma opinião responsável e informada. Sendo que considero este um perigo ainda maior para a nossa democracia, seria talvez de na próxima revisão constitucional, impor que todos os portugueses fossem obrigados a se informarem e a raciocinarem antes de votarem, sob pena de um dia voltarmos a entregar o Poder à pessoa errada e passarmos os 44 anos seguintes a lamentar a nossa escolha.

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